ILUSÕES
PERDIDAS
Aconteceu
no episódio anterior:
1960,
Rio de Janeiro, Astrid se arruma para viajar com Heitor, enquanto conversa com
sua amiga Arlete, que pressente algo ruim. Heitor vai pegá-las na mansão. Há
uma volta no tempo para 1920, em Nuremberg, na Alemanha. Joachim e Peter avisam
para Albert, na estação de trem, sobre o nascimento de Astrid. Todos na família
comemoram o nascimento da menina. Bertha, Paul e Petrus informam que vão para
Polônia. Há um avanço de 18 anos na história. Astrid já está crescida e vive
feliz com seus pais, seu irmão e seu avô. Durante o jantar, Joachim tosse e
deixa seu filho, Albert, preocupado. Passa-se um mês e saúde de Joachim piora
ainda mais e ele falece ao lado dos netos.
Fique
agora com o episódio de hoje:
Episódio
2
Participações
especiais:
Willy – Jesuíta
Barbosa
CENA 1/
NUREMBERG/ CASA DA FAMÍLIA FISHER/ QUARTO DE JOACHIM/ TARDE/ INT.
Astrid e Peter
choram compulsivamente à morte do avô, abraçados ao corpo dele.
ASTRID (Triste) —
Tínhamos tanto
para conversar ainda, vovô. Não era para o senhor ter ido.
PETER — Eu vou avisar ao papai.
Peter sai,
enquanto Astrid continua abraçada ao avô.
Corta para:
CENA 2/
NUREMBERG/ JOALHERIA/ TARDE/ INT.
Peter entra triste
na joalheria. Albert e Emma percebem que aconteceu algo e não hesitam em
questionar.
ALBERT e EMMA
(juntos) — O que houve, meu filho?
PETER — O vovô...
Ele não consegue completar
a frase, mas Albert deduz o que aconteceu. Os seus olhos se enchem de lágrimas.
Ele vai até alguns e diz.
ALBERT — A gente vai ter que fechar a joalheria
agora. O meu pai acabou de falecer.
Os clientes saem,
assim como Emma e Peter, enquanto Albert fecha tudo, tentando ainda digerir o que
acabara de acontecer.
Corta para:
CENA 3/ NUREMBERG/
CASA DA FAMÍLIA FISHER/ QUARTO DE JOACHIM/ TARDE/ INT.
Albert, Emma,
Peter entram no quarto. Astrid tenta se acalmar. Os seus olhos estão inchados de
tanto chorar só conseguiu ter forças para ir ao pai e abraça-lo.
ALBERT (Triste) —
A gente tem que
ser forte neste momento. Se papai se foi é porque chegou sua hora. Eu estou
muito triste, mas esse é o ciclo da vida. A alma dele descansou e o corpo
também. Agora temos que seguir as nossas tradições e rituais para que ele faça
uma boa e digna Viagem à eternidade. (P/Astrid e Peter). Vocês não
deveriam nem ter tocado no corpo dele. Não é bom.
Emma tenta
confortar o marido e os filhos naquele momento difícil. Albert, após passado
alguns minutos, coloca o corpo do pai no chão, com os pés na direção da porta,
retira toda a roupa dele e o cobre com um lençol branco. Em seguida, acende
quatro velas e as entrega cada uma a seus filhos e esposa. Em seguida, lê
alguns salmos do Talmude.
Corta para:
CENA 4/
NUREMBERG/ CEMITÉRIO JUDAICO/ TARDE/ INT.
O corpo de
Joachim e carregado por Albert e mais alguns judeus, sobrinhos do falecido, além de Astrid, Peter e
Emma. Todos carregam consigo velas acesas. O rabino fala as últimas palavras,
antes do corpo ser enterrado a 7 palmos de profundidade.
RABINO — Baqesh keseh oved tayty lo
mitsevoteykha ky avedekha shakhachety (desgarrei-me como uma ovelha perdida;
busca o teu servo, pois não me esqueci dos teus mandamentos)
Em seguida o
corpo é colocado na cova e encoberto pela terra.
Corta para:
CENA 5/ NUREMBERG/
BIBLIOTECA/ TARDE/ EXT.INT.
Letreiro mostra: "2 dias depois"
Astrid vai até a biblioteca. Ainda na calçada ela se depara com algumas pessoas que conversam, até
que um jovem, um pouco mais alto e mais velho, rapaz se aproxima dela.
ADLER (P/Astrid)
— Uma moça tão
bonita não pode ficar andando por aí sozinha. É perigoso, bem perigoso.
ASTRID (P/Adler)
— Desculpe, meu
senhor, mas não costumo falar com estranhos (Ela vê que o rapaz traz em sua
camisa um broche com a suástica). Ainda mais com nazista.
ADLER — Ah, me desculpe. Esqueci de me
apresentar. Prazer, meu nome é Adler. Adler Schimdt. Você é judia?
ASTRID — O meu é Astrid e sim sou judia... com licença, eu
estou com um pouco de pressa e o senhor está me atrapalhando.
ADLER — O que foi, garota? Não precisa ter
medo de mim. Eu não mordo, a não ser que você queira. (Riu).
ASTRID — O senhor tem um humor bem apurado, mas
precisa me dá licença. Nem poderíamos estar conversando.
Astrid nem espera
Adler falar e entra na biblioteca. O rapaz, insistente, a segue e continua a
falar.
ADLER — Para mim, tanto faz ser judia ou não.
Eu não me importo com isso.
ASTRID — Você pode até não se importar, mas o
governo que você apoia se importa.
Depois da fala
incisiva de Astrid, Adler para de a seguir e sai da biblioteca. Ela vai a
procura de livros para ler.
Corta para:
CENA 6/
NUREMBERG/ MANSÃO DA FAMILIA SCHIMDT/ SALA DE JANTAR. QUARTO DE ADLER/ TARDE/
INT.
Adler entra em
casa furioso e bate a porta. Klaus, Marie, Joseph e Minna, que estavam lanchando, se
assustam com a agressividade dele, que sobe para o quarto. Klaus não hesita em
seguir o filho e também entra no quarto e bate com a porta com força.
KLAUS (Gritando)
— Onde você está
pensando que está? Na casa das vadias que você se relaciona?
ADLER — Eu não quero conversar agora, pai. (Tira
o broche nazista e joga na cama). Essa merda só me atrapalha!
Klaus o segura
pela gola da camisa e também pega o broche nazista.
KLAUS (Gritando)
— Escuta aqui
garoto! (Esfrega o broche nazista no rosto do filho). É essa merda aqui
que está garantindo o nosso sustento. Já pensou o que seria de nós se não fosse
o fuhrer e o partido nazista? Estávamos falidos, sabia? O que foi que deu na
sua cabeça?!
ADLER — Nada, meu pai. Desculpa pelo momento
de fúria. Não queria deixa-lo aborrecido. Estou com cabeça quente. Vou tomar
banho.
KLAUS — Espero que não seja nada envolvendo
judeus. Você sabe muito bem o que eles fizeram com a nossa Alemanha, não sabe?
ADLER — Sei muito bem o que esses judeus
fizeram. Quando me deparo com um, saio da calçada para não me contaminar com
aquela raça podre.
KLAUS — Muito bem, meu filho. É por isso que
você é nosso orgulho.
Em seguida, Klaus
sai do quarto. A câmera acompanha Klaus até a sala, onde os demais membros da
família ainda estavam sentados à mesa apáticos diante da situação que
presenciaram minutos antes. Percebendo que Klaus voltara calmo, voltaram a
comer. Marie não consegue segurar a sua inquietação e pergunta, em voz baixa,
ao marido sobre Adler.
MARIE (P/Klaus) —
O que houve? Por
que Adler entrou em aqui daquele jeito?
KLAUS (P/Marie) —
Ele não quis me
contar, mas não deve ter sido nada grave.
MARIE — Espero que não tenha sido nada grave
mesmo. Ele não costuma entrar em casa daquela forma.
Joseph vai à
lareira e a acende. Em seguida, liga o rádio e sintoniza na emissora que toca músicas clássicas.
Corta para:
CENA 7/
NUREMBERG/ MANSÃO DA FAMÍLIA SCHIMDT/ BANHEIRO/ TARDE/ INT.
Adler se despe e
liga o chuveiro. Enquanto se ensaboa, relembra o momento que encontrou Astrid
na biblioteca. Inserir flashback da cena 5 do capítulo 2:
Astrid vai até a biblioteca Ainda na calçada ela se depara com
algumas pessoas que conversam, até que um jovem, um pouco mais alto e mais
velho, rapaz se aproxima dela.
ADLER (P/Astrid)
— Uma moça tão bonita não pode ficar andando por aí
sozinha. É perigoso, bem perigoso.
ASTRID (P/Adler)
— Desculpe, meu senhor, mas não costumo falar com
estranhos (Ela que o rapaz traz em sua camisa um broche com a suástica). Ainda
mais com nazista.
Fim do insert.
Adler abre um
sorriso.
ADLER — Judia vadia! Você não vai escarpar de
mim.
Corta para:
CENA 8/
NUREMBERG/ CASA DA FAMÍLIA FISHER/ QUARTO DE ASTRID/ TARDE/ INT.
Astrid entra no
quarto com alguns livros em suas mãos. Ela os coloca em cima da cama. Percebe
que a janela está fechada e a abre. Por um segundo, vem a sua mente a lembrança
de alguns minutos antes. Inserir flashback da cena 5 do capítulo 2:
ADLER — Ah, me desculpe. Esqueci de me apresentar. Prazer, meu nome é Adler.
Adler Schimdt. Você é judia?
ASTRID — O meu é Astrid... com licença, eu estou com um pouco de pressa e o senhor
está me atrapalhando.
ADLER — O que foi, garota? Não precisa ter medo de mim. Eu não mordo, a não ser
que você queira. (Riu).
ASTRID — O senhor tem um humor bem apurado, mas precisa me dá licença. Nem
poderíamos estar conversando.
Astrid nem espera Adler falar e entra na biblioteca. O rapaz,
insistente, a segue e continua a falar.
ADLER — Para mim, tanto faz ser judia ou não. Eu não me importo com isso.
ASTRID — Você pode até não se importar, mas o governo que você apoia se importa.
Fim do insert.
Astrid dá um
sorriso irônico.
ASTRID — Há cada homem idiota no mundo. Já
pensou um jovem nazista com uma judia.
Corta para:
CENA 9/
NUREMBERG/ RESTAURANTE DA FAMÍLIA SCHINDT/ NOITE/ INT.EXT.
Peter toca a
música “Fur Elise”, de Beethoven, enquanto o restaurante está aglomerado de
pessoas que jantam naquela noite. Klaus recepciona todos no local. Ao final da
apresentação, todos aplaudem Peter. Adler, que está na entrada da cozinha, vê
que Peter traz consigo um pingente com uma estrela de Davi e não hesita em ir
até ele.
ADLER (P/Peter) —
Não admitimos judeus aqui. Imundo, sujo.
Vocês envergonham os alemães. Vá se juntar com a sua turma. Você merece arder
no inferno.
Peter fica
constrangido diante de todo o xingamento que acabara de receber. Todos os
clientes do restaurante começam a jogar comidas e objetos nele. Adler o
puxa pelo braço e o leva para fora do restaurante e o empurra no meio da rua,
que estava molhada por causa da forte chuva que caia naquela noite.
ADLER (P/Peter /
Gritando) — Vagabundo!
Peter anda pela
rua desnorteado e triste.
Corta para:
CENA 10/
NUREMBERG/ RESTAURANTE DA FAMÍLIA SCHIMDT/ NOITE/ INT.
Após a saída da Peter,
Adler pede desculpa aos clientes.
ADLER — Desculpem-me pelo inconveniente, mas foi necessário. Não
admitimos a entrada de ninguém da corja judaica.
Todos aplaudem a
atitude de Adler.
KLAUS
(aplaudindo) — Esse é meu filho,
meu orgulho.
Corta para:
CENA 11/
NUREMBERG/ SALA DE ESTAR/ NOITE/ INT.
Peter entra todo
sujo e machucado. Emma, Albert e Astrid se assustam ao ver a situação em que
Peter se encontra.
EMMA (P/Peter) — O que houve, meu filho? Por que estás tão machucado?
PETER (P/Emma) — Para essa merda de país eu não sou nada. Eu sou um lixo. Fui
demitido de mais um emprego, por ser judeu. Eu tenho vergonha de ser judeu. É
triste, mas eu tenho vergonha de ser judeu.
EMMA — Você não tem que ter vergonha de ser judeu. Eles que tem ter
vergonha de estarem fazendo isso com a gente.
Emma abraça o filho.
Em seguida, Albert e Astrid também o abraçam.
ALBERT — Estamos vivendo momentos difíceis, mas tudo isso vai passar.
ASTRID — É só uma questão de tempo, mas esse momento sombrio vai passar.
Temos que resistir a tudo isso.
Corta para:
CENA 12/ NUREMBERG/
AEROCLUBE / MANHÃ/ INT.
Letreiro mostra: “Uma semana depois”
Adler, vestido
com o uniforme de piloto, e Klaus observam o avião voando no céu.
KLAUS (P/Adler) — Você será um grande piloto. Quem sabe até mesmo piloto da Luftwaffe.
Vai defender o nosso país nos conflitos que virão no futuro. O führer não vai
deixar barato por tudo que aconteceu com a nossa Alemanha na Grande Guerra. Seja
patriota que nem ele, meu filho. Ninguém ama mais a Alemanha que Adolf Hitler. Você
só tem dois caminhos a seguir: ser um militar ou um político, como eu. E ainda
pode gerir o restaurante da nossa família. Oportunidades não faltam meu filho.
ADLER (P/Klaus) —
Eu serei o orgulho da família, meu pai, e
farei de tudo para defender o meu país. Estou me dedicando para ser um militar
exemplar e um ótimo piloto.
Enquanto fala com
o pai, Adler coloca o capacete e os protetores auriculares. Em seguida entra no
avião. Ele liga os motores e decola. A cabine do piloto treme um pouco. Klaus
observa o filho decolando e fazendo manobras.
Corta para:
CENA 13/ NUREMBERG/
CASA DA FAMÍLIA FISHER/ SALA DE ESTAR/ TARDE/ INT.
Peter toca “Prelude
in C major”, de Bach, no piano. Neste instante, Astrid entra na sala e fica
encantada ao ver o irmão tocando.
ASTRID — Você toca piano lindamente, meu irmão. Brilharia em qualquer
concerto do mundo.
PETER — brilharia... Mas algo me impede de fazer isso. Eu sou
judeu. Esse é meu crime. Eu sou judeu. Não consigo mais emprego em lugar algum.
ASTRID — Nada na vida é fácil. Você vai conseguir realizar seu sonho.
Astrid sai, em
seguida. Peter retira um bilhete do bolso.
PETER — “Preciso me encontrar com você hoje a tarde na praça”
Corta para:
CENA 14/
NUREMBERG/ RUAS DA CIDADE/ TARDE/ EXT.
Pessoas caminham
pelas ruas. Carros e bondes passam pela cidade. Policiais da Gestapo intimidam
um rabino que está passando pela calçada, o aborda e cortam as suas tranças e
seu bigode. Em seguida o espancam.
POLICIAL 1
(Gritando) — Judeu imundo!
Em seguida, esses
mesmos policiais correm armados pela cidade.
Corta para:
CENA 15/ NUREMBERG/
JOALHERIA/ TARDE/ INT.
Albert, de cabeça
baixa, estava consertando um pingente no momento que um homem se aproxima.
HOMEM — Por quanto está esse anel?
Albert reconhece
aquela voz. Ele levanta a cabeça e vê que era Paul que estava falando. Ele
estava acompanhado de Bertha e de Petrus.
ALBERT (Feliz) — Paul, não acredito que você voltou, meu amigo. Que alegria. (P/Petrus).
Como o Petrus cresceu. Nem parece aquele menino que corria pela minha casa e
brincava com Peter.
PAUL — Prometi que ia voltar e voltei.
BERTHA — A viagem foi longa, mas estamos aqui.
PAUL (P/Petrus) —
Cumprimente seu padrinho!
Petrus cumprimenta Albert. Neste instante, Emma
entra e se alegra ao ver Paul, Berha e Petrus.
EMMA (P/Paul e
Bertha) — 18 anos se passaram desde que
vocês foram para Polônia. Vocês fizeram muita falta.
BERTHA (P/Albert
e Emma) — E os meninos e seu Joachim
como estão?
EMMA — Peter e Astrid estão bem. Joachim faleceu recentemente.
ALBERT — Ele adoeceu de repente e logo faleceu.
Eles passaram o
resto da tarde conversando.
Corta para:
CENA 16/ NUREMBERG/
PRAÇA/ EXT./ TARDE
Peter se senta no
banco da praça a espera de uma pessoa. Alguns minutos se passaram, até que um
rapaz se senta ao lado dele.
PETER — Fiz como combinamos, Willy!
WILLY — Estava com saudades de você. Não nos víamos há alguns meses.
Achei que tinha acabado tudo entre nós. O que houve?
PETER — Muitos problemas em casa. Meu avô faleceu... Mas o que importa
agora é que estamos juntos novamente.
WILLY — Quando é que você vai me apresentar a sua família?
PETER — Eu preciso de um tempo.
WILLY — Eu cansei de dá tempo. Você fica só me enganado, me enrolando.
Passa dias sem me dá satisfação. Que amor é esse?
Willy se levanta
para ir embora, mas é impedido por Peter.
PETER — Você acha que é fácil falar para os meus pais que eu sou gay?
WILLY — Eu sei que não é fácil. Não é fácil para você, nem para mim, nem
para ninguém. Mas eu já fiz a minha parte. Meus pais já estão cientes do nosso
relacionamento.
PETER — Acontece que eu não sei como meus pais vão reagir. Além de gay,
você não é judeu. O judaísmo só permite união entre judeus.
WILLY — Se for preciso, eu me converto.
PETER — Não é tão simples como parece.
WILLY — A gente precisa resolver isso logo. Eu não consigo mais ficar
longe de você.
Eles se beijam.
WILY — Promete que vai falar com seus pais.
PETER — Prometo!
Corta para:
CENA 17/ NUREMBERG/
CASA DS FAMÍLIA FISHER/ SALA DE ESTAR/ NOITE/ INT.
Albert, Emma,
Petrus, Bertha e Paul entram.
ALBERT — Tem alguém em casa? Peter? Astrid?
Astrid desce as
escadas.
EMMA (P/Astrid) —
Minha filha, esses são Bertha, Paul e Petrus.
Petrus e Astrid
trocam olhares e sorriem um para outro.
A imagem congela em preto e branco, fixa em um camafeu, que se fecha.
Postar um comentário